“Precisava que o dia tivesse 48 horas.”

Alexandra, Vera e Margarida são mães, profissionais e “CEOs” do lar e da vida familiar. As três são pilar para os filhos, para os companheiros e para a casa onde vivem. Sonham com dias maiores para poderem fazer mais e não esquecem a carreira e o percurso profissional. Será que recebem todo o apoio que precisam?
A propósito do Dia Internacional da Família sentámo-nos à conversa com as três para entender de que forma conciliam a vida pessoal, familiar e profissional.

Margarida Pereira tem 42 anos. É casada, tem quatro filhos, com idades entre os 2 e os 12 anos, e assume a direção técnica de um organismo de certificação. Já Vera de Jesus, com 39, é casada e mãe de primeira viagem, com apenas 10 meses de maternidade no currículo. É professora e regressou recentemente ao trabalho. Numa situação quase oposta está a Alexandra Abreu, com 37 semanas de gravidez. É a nona vez que está “em estado de graça”. Isso, leu bem, a Alexandra prepara-se para mergulhar na maternidade com filho número 9, sendo que o mais velho tem 18
anos e o mais novo apenas um. Apesar da vasta experiência, Alexandra diz que está muito longe de saber tudo: “É sempre uma novidade. Nunca sabemos tudo e em todos os bebés aprendo muito.” Das três, e por força das circunstâncias, talvez seja a Alexandra quem vive os dias mais desafiantes. O marido é o grande apoio. Dividem todas as tarefas. Francisco Abreu, é advogado e trabalha por conta própria, por isso gere os próprios horários. Alexandra assume que o companheiro é quem trabalha mais horas. Com uma família tão numerosa, o casal decidiu que ela só trabalharia em regime de part-time, pela manhã, para que nas restantes horas do dia pudesse acompanhar e estar mais presente na vida dos filhos. Ainda assim, as manhãs na casa dos Abreu são um lufa-lufa, em que cada um sabe muito bem o papel que tem. “O Francisco trata dos pequenos-almoços e dos lanches, enquanto eu ajudo a vestir os mais novos e verifico se o material da escola, que em princípio está pronto de véspera, está mesmo ok.” Visualizar depoimento Inspecção feita e o pai parte para a primeira ronda de viagens para a escola. No relógio batem as oito da manhã. Tem uma hora para ir e regressar a casa, já que a segunda volta acontece às nove. Com as crianças todas na escola chega, finalmente, a hora para o casal sair para trabalhar.
Nem sempre é assim. Há dias em que as obrigações profissionais de ambos exigem mudanças. Por isso, a organização logística pode mudar. “Fazemos essa gestão quase diária. E vamos salvaguardo-nos, assim, um ao outro.” Visualizar depoimento
Enquanto a conversa decorre, Vera, que anda nestas lides da maternidade há poucos meses, escuta atentamente o discurso de quem tem uma espécie de “doutoramento” na matéria. Entre o deslumbre e o espanto pela “ginástica” que a família Abreu faz diariamente, Vera acaba por perceber que o seu caso, com apenas uma bebé, não difere assim tanto do que acaba de ouvir. Se, no início, o peso das tarefas recaía, de uma forma natural, para si, que é mulher, agora a logística é partilhada. Como se se tratasse de uma equipa: “Exatamente, a palavra está bem metida. Equipa. Então, cá em casa, no início era, ‘mãe é mãe’, ‘o que é que eu faço?’. Agora, sinto que já não oiço essa pergunta.” Visualizar depoimento. Certo é que, tal como aconteceu com a Vera de uma forma natural, a mãe acaba por ter sobre si um peso maior na maternidade. “Há uma coisa que não nos podemos esquecer, que é a parte biológica e a natureza humana. Do homem e da mulher, do macho e da fêmea. Portanto, contra isso, não há nada que possamos trabalhar para mudar”, Visualizar depoimento sublinha Margarida. Contudo, fora de casa a carreira das três mantém-se. Fraldas, lancheiras, futebol e ballets à parte, a verdade é que a atividade profissional continua a ser um objetivo na vida, não só destas três mulheres, mas da grande maioria das mães atuais. O desafio é, portanto, maior. Será que as empresas apoiam as mulheres o suficiente para que, nesta fase da vida, consigam conciliar a carreira com os filhos?

A Vera é professora e funcionária pública. Assume que o apoio que tem sentido é grande e muito bom: “Temos, durante o primeiro ano, uma redução de seis horas na componente lectiva. Preferencialmente, não entramos à primeira hora da manhã, nem saímos à última da tarde. (…) confesso que me dá alguma ajuda para poder estar mais tempo com a minha filha.” Visualizar depoimento Ainda assim, lamenta o facto do Estado só permitir que a mãe goze uma licença de apenas quatro meses após o parto. Se a mulher pretender estender esse período tem uma redução salarial: “Eu pedi mais três meses de licença e não recebi um terço do meu ordenado.” Visualizar depoimento Vera optou por, mesmo assim, não regressar ao trabalho para ficar com o filha. Contudo, a grande maioria das mulheres não pode fazer a mesma escolha, pela falta de rendimento que isso significa.

Margarida tem um cargo de chefia na empresa onde trabalha e assume que homens e mulheres têm o mesmo tratamento no que respeita aos filhos. Contudo, o que acontece na maioria das vezes é que nem sempre, em casa, existe a mentalidade de que tanto o pai como o mãe têm o dever de, por exemplo, faltar ao trabalho por motivo de doença de um filho. “Tendencialmente, são mais as mães que ficam em casa por causa de doença dos filhos. Lá está, podemos também explicar isso devido à parte biológica. Isto é uma questão cultural e eu acho que também é preciso trabalhar essa ideia. Os pais têm que entender que não pode ser sempre a mãe e a entidade empregadora da mãe a ficar prejudicada. (…) tem que ser uma coisa partilhada, não pode ser só a mãe, tem que ser também o pai, dentro daquilo que for possível.” Visualizar depoimento
De facto, o mundo não é perfeito e cabe a cada um fazer pequenos gestos que transformem o que não está bem. Os pais, por exemplo, devem substituir, cada vez mais e no que podem, as mães. Só assim elas poderão cumprir a 100% o seu papel profissional. Não é por acaso que quando se pergunta qual seria a primeira coisa a mudar para minimizar as agruras da maternidade, a Alexandra e a Margarida respondam (quase) em uníssono: “Precisava que o dia tivesse 48 horas.”

Scroll to Top